sexta-feira, 15 de junho de 2012

Crítica - Diario Digital

Os Corsage introduzem um novo conceito: a «Música Bipolar Portuguesa», ancorada num passado de sonhos pop, agora anacrónicos. O currículo dos músicos dos Corsage indica bandas como Pop Dell´Arte, More República Masónica e Raindogs e esse passado está todo em «Música Bipolar Portuguesa», título de humor refinadíssimo numa altura em que a bandeira é hasteada, tantas vezes com fundamento mas outras tantas apenas porque da mesma forma que a portugalidade era menosprezada, agora é vangloriada. Aliás, se há banda que não se revê neste presente são os Corsage e basta atentar na ironia de letras como «Nietzche Sushi Fashion Victim» ou «Uterotopia» para se alcançar o desprezo com que olham para um tempo que também é seu em que, por exemplo, a música se transformou num espaço de afirmação social, ou por outras palavras, mais fortes, numa feira de vaidades. Por aqui, evoca-se a mutação linguística dos Pop Dell´Arte, o risco dos GNR e a teatralidade de Morrissey, sem uma identidade muito generosa mas com uma sincera vontade de não banalizar. Ou como se o Rock Rendez-Vous reabrisse as portas não exactamente com as mesmas pessoas mas, pelo menos, com a mesma abertura de espírito e vontade de abrir caminho. Esta «Música Bipolar Portuguesa» é para pessoas cultas que cultivam a memória. Esse é também o defeito de um disco de genuinidade inatacável: falta-lhe frescura e uma linguagem mais solta para não se assemelhar a um baú reconstruído. Não há mal nenhum em parar no tempo desde que não se torne uma obsessão. E, por vezes, cheira a mofo neste terceiro auto dos Corsage. Davide Pinheiro

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