Num Mundo Sempre Sol
Parece-me difícil não entrar logo a matar com a referência mais óbvia ao som de Corsage, o que para mim até é um elogio e uma elegia, visto adorar ambos os grupos. Belle & Sebastian têm o seu legado aqui bem pertinho de nós neste som jovial e fresco, pop de sol e praia, Lisboa até ao por-do-sol em esplanadas de cerveja e caracóis. Ou esplanadas de vinho branco e petiscos gourmet. Esta última parece-me a mais acertada, nunca desdenhando a nossa cultura de cerveja, tremoço, caracóis e festa.
Os Corsage sonham com os olhos e as camisas bem abertas, e fogem ao calor sufocante que por estes dias se faz sentir com belos momentos pop e refrões orelhudos, que de tão frescos e leves parece que já fazem parte de nós. Logo no primeiro momento do disco, All Their Faces, somos transportados para este país colorido, naquele que é provavelmente um dos temas mais belos deste disco. Ao entrar o violino somos conquistados para a vida. O tema seguinte, Dried up, River Blues, continua com o sol nos corações, qual brincadeira de criança adulta. Porque é isso que transparece ao longo do disco: adultos a brincar como crianças alegres.
Quase a meio do disco as coisas acalmam e tornam-se ligeiramente introspectivas, sem nunca perder a identidade Corsage; este som tão seguro de si, tão consciente e tão próprio, que nos faz abrir as janelas todas e deixar entrar a brisa do final de tarde, como no rock brincalhão de faixas como Gatekeepers. Stockings are Gunpowder presta a sua homenagem ao blues e conta com uma secção de sopros à filme italiano. A transição para o "Lado B" é feita com um pequeno trecho intitulado Intervalo, um momento soberbo. Este segundo lado é mais calmo, como se fosse o lado do Inverno e por isso menos excitante.
É interessante essa separação entre dois lados, porque este disco tem, efectivamente, duas faces, mas à primeira audição este segundo lado pode passar despercebido ao ouvinte mais desatento.
Finito L'Amore pode ser demasiado pop para alguns, mas têm dois lados para escolher. Talvez esse seja o ponto fraco, embora os dois lados Corsage sejam igualmente virtuosos e belos, mas hoje em dia o tempo avança também muito mais depressa e pode haver o risco de o disco parar a meio e ser esquecido. O que é pena porque, embora prefira o lado mais solarengo, o segundo lado tem boas melodias de embalar corações. Oiçam no Inverno e no Verão, e troquem os lados ou oiçam só um de cada vez ou oiçam tudo de seguida, vão encontrar boas surpresas aqui. E sim, é música Portuguesa. Não tinha dito?
João Luis Amorim
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